Na sua Introdução à Leitura d’Os Maias (1978), Carlos Reis localiza, no romance de 1888 de Eça de Queirós (1845-1900), diversas simbologias que desempenham a função literária de antecipadores dos sucessivos desenvolvimentos do enredo: desde o escarlate-sangue da sombrinha de Maria Monforte, que aponta para o suicídio de Pedro, ao lírios que murcham na casa de Maria Eduarda, como acontecerá também ao seu amor com Carlos (REIS, Introdução à Leitura d’Os Maias, Coimbra, Almedina, 2006, pp. 93-94). Com efeito, a obra apresenta uma considerável componente figurativa, dada pelas próprias simbologias e pelas metáforas que recorrem dentro do texto. Este trabalho propõe recolher estas últimas, selecionando aquelas que o autor refere às personagens secundárias ao fim de compor um quadro tristemente cômico da alta sociedade lisboeta, destinada a levar o país à ruína: assim, a Dâmaso Salcede Eça associa constantemente verbos como “estourar”, “estalar” (QUEIRÓS, Os Maias, Lisboa, INCM, 2017, pp. 201 e 392); à condessa de Gouvarinho relaciona o campo semântico do murchamento ao escrever que tem um “tom de folha de outono amarelada”, e que o barulho da sua saia faz “um ruge-ruge de folhas secas” (Ibidem, p. 322); ao Alencar, atribui a isotopia da morte, descrevendo-o como “face escaveirada, olhos encovados [...] em toda a sua pessoa havia alguma coisa de antiquado, de artificial e de lúgubre” (Ibidem, p. 201). Através da análise dos elementos que compõem as metáforas e da sua formulação linguística, demonstrar-se-á que, através delas, o escritor cria paródias e reforça, dentro do texto, a imagem de um Portugal incapaz de ir ao encontro da modernidade.

In his Introdução à Leitura d’Os Maias (1978), Carlos Reis locates in the 1888 novel by Eça de Queirós (1845-1900) several symbologies that play the literary role of anticipators of successive plot developments: from the scarlet-blood of Maria Monforte's umbrella, which points to Pedro's suicide, to the lilies that wilt in Maria Eduarda's house, as will also happen to her love with Carlos (REIS, Introdução à Leitura d'Os Maias, Coimbra, Almedina, 2006, pp. 93-94). In fact, the work presents a considerable figurative component, given by the very symbologies and metaphors that recur within the text. This work proposes to collect the latter, selecting those that the author refers to the secondary characters in order to compose a sadly comic picture of Lisbon's high society, destined to lead the country to ruin: thus, to Dâmaso Salcede Eça constantly associates verbs such as "estourar", "estalar" (QUEIRÓS, Os Maias, Lisbon, INCM, 2017, pp. 201 and 392); to the countess of Gouvarinho he relates the semantic field of withering when he writes that she has a "tom de folha de outono amarelada", and that the rustle of her skirt makes "um ruge-ruge de folhas secas" (Ibidem, p. 322); to Alencar, he attributes the isotopia of death, describing him as "face escaveirada, olhos encovados [...] em toda a sua pessoa havia alguma coisa de antiquado, de artificial e de lúgubre" (Ibidem, p. 201). Through the analysis of the elements that make up the metaphors and their linguistic formulation, it will be shown that, through them, the writer creates social types and reinforces, within the text, the image of a Portugal unable to meet modernity.

A construção dos personagens secundários em "Os Maias": análise linguística de algumas metáforas

FELICI MARIA SERENA
2023-01-01

Abstract

In his Introdução à Leitura d’Os Maias (1978), Carlos Reis locates in the 1888 novel by Eça de Queirós (1845-1900) several symbologies that play the literary role of anticipators of successive plot developments: from the scarlet-blood of Maria Monforte's umbrella, which points to Pedro's suicide, to the lilies that wilt in Maria Eduarda's house, as will also happen to her love with Carlos (REIS, Introdução à Leitura d'Os Maias, Coimbra, Almedina, 2006, pp. 93-94). In fact, the work presents a considerable figurative component, given by the very symbologies and metaphors that recur within the text. This work proposes to collect the latter, selecting those that the author refers to the secondary characters in order to compose a sadly comic picture of Lisbon's high society, destined to lead the country to ruin: thus, to Dâmaso Salcede Eça constantly associates verbs such as "estourar", "estalar" (QUEIRÓS, Os Maias, Lisbon, INCM, 2017, pp. 201 and 392); to the countess of Gouvarinho he relates the semantic field of withering when he writes that she has a "tom de folha de outono amarelada", and that the rustle of her skirt makes "um ruge-ruge de folhas secas" (Ibidem, p. 322); to Alencar, he attributes the isotopia of death, describing him as "face escaveirada, olhos encovados [...] em toda a sua pessoa havia alguma coisa de antiquado, de artificial e de lúgubre" (Ibidem, p. 201). Through the analysis of the elements that make up the metaphors and their linguistic formulation, it will be shown that, through them, the writer creates social types and reinforces, within the text, the image of a Portugal unable to meet modernity.
2023
978-65-5458-045-8
Na sua Introdução à Leitura d’Os Maias (1978), Carlos Reis localiza, no romance de 1888 de Eça de Queirós (1845-1900), diversas simbologias que desempenham a função literária de antecipadores dos sucessivos desenvolvimentos do enredo: desde o escarlate-sangue da sombrinha de Maria Monforte, que aponta para o suicídio de Pedro, ao lírios que murcham na casa de Maria Eduarda, como acontecerá também ao seu amor com Carlos (REIS, Introdução à Leitura d’Os Maias, Coimbra, Almedina, 2006, pp. 93-94). Com efeito, a obra apresenta uma considerável componente figurativa, dada pelas próprias simbologias e pelas metáforas que recorrem dentro do texto. Este trabalho propõe recolher estas últimas, selecionando aquelas que o autor refere às personagens secundárias ao fim de compor um quadro tristemente cômico da alta sociedade lisboeta, destinada a levar o país à ruína: assim, a Dâmaso Salcede Eça associa constantemente verbos como “estourar”, “estalar” (QUEIRÓS, Os Maias, Lisboa, INCM, 2017, pp. 201 e 392); à condessa de Gouvarinho relaciona o campo semântico do murchamento ao escrever que tem um “tom de folha de outono amarelada”, e que o barulho da sua saia faz “um ruge-ruge de folhas secas” (Ibidem, p. 322); ao Alencar, atribui a isotopia da morte, descrevendo-o como “face escaveirada, olhos encovados [...] em toda a sua pessoa havia alguma coisa de antiquado, de artificial e de lúgubre” (Ibidem, p. 201). Através da análise dos elementos que compõem as metáforas e da sua formulação linguística, demonstrar-se-á que, através delas, o escritor cria paródias e reforça, dentro do texto, a imagem de um Portugal incapaz de ir ao encontro da modernidade.
Metáfora, Ironia, Linguística do texto, Eça de Queirós, Os Maias
Metaphor, Irony, Text Linguistics, Eça de Queirós, Os Maias
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Utilizza questo identificativo per citare o creare un link a questo documento: https://hdl.handle.net/20.500.14090/3381
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